skip to Main Content

O mito do líder “radical”: por que táticas disruptivas podem sair caro

Em vez de tentar “incendiar” a organização, talvez o caminho mais inteligente seja cultivar confiança, alinhar expectativas e reforçar a sensação de segurança

Alguns líderes assumem o comando de uma empresa com tanta intensidade que seu estilo é descrito como desafiador, difícil ou até hostil. A imagem de Steve Jobs, gênio criativo mas notoriamente duro com sua equipe, costuma ser usada como exemplo de que esse tipo de liderança pode gerar grandes inovações. Mas será que esse modelo realmente funciona fora de raras exceções?

Um novo estudo da European School of Management and Technology, em Berlim, sugere que não. Segundo os pesquisadores, líderes “incendiários”, que se apoiam em choques e rupturas para transformar organizações, correm o risco de causar mais danos do que avanços.

O paralelo com a física

Os autores do estudo comparam essa abordagem radical ao processo de anelamento — usado na física para aquecer materiais até um ponto crítico, no qual eles se reorganizam, corrigindo defeitos e aliviando tensões. É uma metáfora elegante para gestores que acreditam precisar “acender um fogo” sob a equipe para forçar mudanças.

Na prática, esse estilo envolve questionar rotinas, desorganizar fluxos e desafiar hábitos estabelecidos, com a promessa de que algo novo e mais forte emergirá. O problema, segundo a pesquisa, é que o resultado nem sempre é renovação: muitas vezes, o que sobra é desgaste e frustração.

Quando pode dar certo

Para que o “anelamento” de fato funcione, três condições precisam ser atendidas:

  • O líder deve ter status sólido e apoio contínuo da equipe, mesmo que sua postura seja dura.
  • É necessário trazer energia emocional e consciência sobre o impacto das próprias ações.
  • A organização precisa ter recursos, tempo e clareza de objetivos suficientes para lidar com a turbulência.

Além disso, o processo só funciona se vier acompanhado de um segundo momento: o “resfriamento”. Nesse estágio, novas rotinas são estabilizadas, relações são recompostas e o estresse é reduzido. Sem essa fase, a empresa pode ficar presa em ciclos de caos improdutivo.

O risco de imitar Jobs

Jobs pode ter conseguido resultados extraordinários em sua trajetória, mas especialistas alertam que imitar suas táticas sem contexto pode ser desastroso. Poucos líderes conseguem manter a confiança da equipe enquanto destroem processos existentes. Para a maioria, insultos públicos ou mudanças bruscas de direção corroem a moral e a confiança.

Alternativas mais eficazes

Relatórios recentes apontam outro caminho: grandes líderes costumam combinar inspiração, compaixão e estabilidade. Em momentos de crise e incerteza, essa combinação tem mais chance de engajar equipes e manter a produtividade do que uma postura de confronto constante.

Num cenário marcado por cortes de pessoal, transformações trazidas pela IA e desconfiança generalizada, estabilidade pode ser o maior presente que um líder oferece à sua equipe.

O recado para gestores

Antes de apostar em um “choque de cultura” ou em métodos duros para acelerar resultados, vale refletir: sua equipe tem clareza, recursos e confiança suficientes para atravessar a turbulência? Se a resposta for não, as chances de o efeito ser destrutivo são altas.

Em vez de tentar “incendiar” a organização, talvez o caminho mais inteligente seja cultivar confiança, alinhar expectativas e reforçar a sensação de segurança.

Fonte: https://www.administradores.com.br/

This Post Has 0 Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Back To Top