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Morango do amor e a reinvenção de alimentos tradicionais em períodos sazonais

Na gastronomia contemporânea, o sucesso de um produto nem sempre depende de novos ingredientes, mas da forma como histórias, sabores e emoções são resgatadas. É nesse cenário que os alimentos simbólicos e a memória afetiva ganham força como estratégia para inovação na confeitaria tradicional.

O fenômeno do morango do amor é um exemplo marcante de como doces clássicos com releitura contemporânea podem virar tendência, gerar escassez e multiplicar vendas em questão de dias.

A seguir, vamos explorar o que torna um alimento reinventado, por que a sazonalidade importa e como tradição e estética podem caminhar juntas rumo ao próximo case de sucesso.

Da maçã ao morango: a transformação de um clássico

A maçã do amor, que consiste na fruta inteira coberta com caramelo vermelho, é um daqueles doces que atravessam gerações. Criada em 1908, nos Estados Unidos, surgiu como um doce natalino, mas logo conquistou o público em festas populares. No Brasil, chegou por volta da década de 1940. Aqui, ganhou espaço nas festas juninas, como um doce de inverno e, com o tempo, ganhou variações como espetinhos de uva e banana.

Nesse cenário, a mais recente reinvenção desse doce clássico veio com o protagonismo de outra fruta: o morango. Graças ao clima e às inovações tecnológicas da agricultura nacional, o Brasil se tornou o maior produtor de morangos da América do Sul e o 7º do mundo.

Só nas últimas duas décadas, a produção nacional aumentou 92%, e a área plantada cresceu 61%, de acordo com a Embrapa. O resultado é um cenário perfeito para transformar essa fruta em tendência — e foi exatamente o que aconteceu.

O morango do amor, coberto com brigadeiro e finalizado com crosta de caramelo, viralizou nas redes sociais e virou sensação. Só no TikTok, a hashtag do doce ultrapassou 50 milhões de visualizações nos primeiros dias.

No iFood, os pedidos dispararam mais de 2.300% entre junho e julho de 2025, chegando a mais de 524 mil unidades entregues no mês. Um fenômeno que mostra como alimentos afetivos na gastronomia moderna, quando apresentados de forma criativa, têm potencial explosivo de mercado.

Como reinventar um alimento tradicional?

Alguns alimentos carregam uma combinação rara: sabor marcante, memória afetiva e forte ligação com celebrações. É essa mistura de perfil sensorial e simbologia cultural que os torna candidatos perfeitos para serem reinventados, como o morango do amor mostrou com força total.

Doces clássicos com releitura contemporânea funcionam porque tocam um ponto sensível no público: a lembrança da infância, das festas de rua, das bancas coloridas das quermesses. A maçã do amor sempre foi um exemplo disso, vendida quase exclusivamente em junho e julho, quando as festas juninas tomam conta do calendário e reinam os doces de inverno, como o caramelo que é mais resistente no clima frio. O morango do amor seguiu o mesmo caminho, só que com uma nova roupagem mais instagramável e gourmetizada.

Na adaptação da receita, ainda entrou outro doce tradicional e afetivo, o brigadeiro. Por ser uma fruta com alto teor de água e sem uma casca seca, o morango não pode ser coberto diretamente pelo caramelo, que derreteria com a umidade do alimento. Para separar a fruta da cobertura, foi usada uma camada de brigadeiro, que permite variações de chocolate branco, ao leite, amargo, bicho de pé, entre outros.

A combinação de texturas e sabores foi um sucesso. A suculência e acidez do morango, a maciez e doçura do brigadeiro e a casquinha crocante de caramelo compõem uma receita equilibrada e perfeita para o paladar do brasileiro.

sazonalidade também entra como fator estratégico. Julho é época de colheita de morangos em várias regiões do Brasil, o que garante oferta abundante, qualidade elevada e preços mais competitivos. Esse ciclo agrícola, somado às redes sociais e à procura por alimentos simbólicos e com memória afetiva, criou o terreno ideal para uma explosão de vendas.

Na prática, é isso que diferencia um doce com apelo passageiro de um case de sucesso: a capacidade de unir tradição e inovação na culinária. Quando o sabor conversa com o afeto e com a estética contemporânea, nasce uma nova tendência gastronômica com alimentos afetivos e, junto com ela, oportunidades reais de negócio.

Como o foodservice pode explorar essa tendência?

A reinvenção de alimentos tradicionais passa pela habilidade de unir memória afetiva com hábitos contemporâneos. Produtos como o morango do amor provam que doces de infância repaginados podem ganhar novo valor quando apresentados de forma criativa e visualmente atrativa.

As redes sociais desempenham papel central nesse processo. O desejo coletivo criado nas timelines transforma alimentos simples em itens disputados, como aconteceu com o morango coberto de caramelo. A experiência de comer o doce impulsionou a demanda e elevou o preço.

Para as empresas de alimentos, o caminho está em monitorar tendências digitais, respeitar a sazonalidade dos ingredientes e apostar em releituras que conectem tradição e inovação na culinária. Clássicos afetivos ganham potência comercial quando são embalados com propósito, estética e timing.

O Amor aos Pedaços, tradicional doceria de São Paulo, pode vender até 38 mil morangos do amor por dia nas lojas da rede. a A cofundadora Silvana Abramovay afirmou que nunca viu nada igual em 43 anos como doceira e fez o “Festival do Morango Amor aos Pedaço”, aproveitando o momento para criar variações de sabores do doce, que criou filas na porta das lojas.

O sucesso do morango do amor mostra como tradição e inovação na culinária podem caminhar juntas. Ao reinterpretar sabores conhecidos com criatividade e sensibilidade estética, o setor alimentício encontra novas formas de encantar o consumidor.

Alimentos simbólicos ganham força quando despertam lembranças e, ao mesmo tempo, se conectam ao presente. Doces típicos brasileiros, quando repaginados, deixam de ser sazonais para se tornarem altamente comercializáveis o ano inteiro.

Mais do que seguir tendências, o segredo está em enxergar o valor afetivo dos produtos e moldá-los aos novos formatos de consumo.

Fonte: https://www.foodconnection.com.br/

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