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Formar equipes engajadas é desafio para bares e restaurantes

O freelancer é uma realidade em praticamente todas as profissões. Há quem prefira a flexibilidade que esse regime ‘sem compromisso’ oferece, e há ainda quem, momentaneamente, só encontre nesse modelo uma maneira de permanecer no mercado de trabalho. No setor de alimentação fora do lar, o famoso freela ganhou o nome de ‘taxa’. E, se por um lado, a prática permite a donos de bares e restaurantes contarem com mais epregados apenas nos dias de maior movimento, por outro, ela se tornou um desafio para a manutenção de equipes engajadas.

É comum a reclamação entre donos de estabalecimentos de alimentação fora do lar sobre a dificuldade de encontrar profissionais que queiram permanecer na equipe de forma fixa, em regime CLT. Nas redes sociais, grupos oferecem empregos de taxas em restaurantes, bares, hotéis, eventos e até para motoboys. Um desses grupos, que oferece vagas para Curitiba e região no setor de alimentos, conta com 23 mil membros.

Com oferta de vagas em alta e, não raro, pouco interesse ou estímulo para construir carreira na área, são muitos os garçons, atendentes, cozinheiros e outros profissionais da área que preferem permanecer como taxa a ter que bater ponto diariamente no mesmo local.

“Para o restaurante, demanda investimento de tempo constante em treinamentos básicos e torna o serviço de toda a equipe, no mínimo, menos fluido”, comenta Yasmim Taketani, sócia-proprietária do Pasta Basta.

A consequência dessa falta de fluidez impacta na qualidade da operação e, algumas vezes, causa a perda de faturamento e clientes. Quando chega a esse ponto, resolver o desafio se torna urgente. Afinal, como montar equipes fixas e engajadas para encarar a rotina de bares e restaurantes? Essa talvez seja uma daquelas perguntas de “milhões” para o setor de alimentação fora do lar.

“O que mais se ouve é sobre a escassez de mão de obra no setor”, diz o sócio-proprietário do Ginger Bar, Pedro Vieira Vieira. Em grupos de WhatsApp com proprietários de estabelecimentos, informa, há sempre quem esteja à procura de funcionários para trabalhos com carteira assinada.

“Precisamos de pessoas mais fixas que possam conhecer melhor o setor e trabalhar dentro”, explica Luciano Bartolomeu, diretor executivo da Abrasel-PR (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes – Paraná). “Assim, a gente pode ter uma equipe mais bem montada para não precisar ter taxa no fim de semana. Mas hoje a gente precisa ter taxa no fim de semana, porque é difícil montar uma equipe”, diz.

O diretor explica que muitas vezes os estabelecimentos aceitam por não encontrar funcionário para determinado período. A associação estima que hoje o segmento reúna cerca de 50 mil profissionais em todo o estado.

Trabalho intermitente, cursos e plano de terapia

A Reforma Trabalhista de 2017 criou o trabalho intermitente, prestação de serviço feito de forma esporádica. O regime estabelece vínculo de subordinação, e garante ao profissional os demais direitos do trabalho, exceto o seguro-desemprego. O modelo de trabalho é determinado em horas, dias ou meses, em qualquer atividade. A modalidade foi regulamentada pela lei 13.467/2017.

Para o diretor da Abrasel, a lei é positiva para o setor, tanto proprietários quanto trabalhadores, por permitir que profissionais possam optar por uma modalidade flexível sem perder os benefícios da CLT. E entende que o crescimento das taxas no segmento acontece por desconhecimento, por parte de profissionais mais jovens, tanto do que é o trabalho intermitente quanto sobre as vantagens de se trabalhar na área.

Foi a opção encontrada pelo Ginger Bar, em Curitiba. Dos 16 funcionários que compõem a equipe, três atuam no regime de trabalho intermitente. Os demais trabalham em regime de CLT. Os intermitentes são estudantes, explica o sócio-proprietário Pedro Vieira, e preferem a flexibilidade que a modalidade oferece para poderem desenvolver suas atividades acadêmicas.

Ao propor o regime, o estabelecimento conseguiu oferecer aos profissionais o que eles precisavam, e eles continuam a ter acesso aos direitos estabelecidos na lei. Em contrapartida, a casa encontra neles funcionários mais comprometidos com o trabalho.

“A gente sempre oferece a carga completa (44 horas semanais), mas dá a opção de trabalhar como intermitente para essas pessoas que a gente, como empresa, entende que são interessantes, mas que não podem completar as 44 horas por motivos pessoais”, explica.

Vieira cita o caso de uma de suas funcionárias que, em sua vida acadêmica, realiza pesquisas no litoral e que precisa, portanto, se ausentar por períodos mais longos. Com o trabalho intermitente, ela pode trabalhar no Ginger em horários flexíveis com os direitos que o regime preserva.

A vantagem do intermitente, garante o representante da Abrasel, é que permite ao profissional estabelecer um acordo com várias empresas do setor e trabalhar dentro da disponibilidade tanto dele quanto da empresa sem perder direitos trabalhistas.

Sócia-proprietária do Pasta Basta, Yasmin Taketani conta que já teve funcionários que começaram como taxa e que, com o tempo, foram absorvidos pela equipe em contrato com carteira assinada. Mas que alguns, “porque estudam, têm outros trabalhos ou simplesmente não querem esse tipo de contrato, recusam”.

Para conquistar os funcionários, Yasmin conta algumas das estratégias que passou a adotar no restaurante. Bonificações, treinamentos na área e momentos de celebração em equipe são algumas das ações. Outra iniciativa envolve a parceria com estabelecimentos para oferecer descontos às equipes, gerando assim um intercâmbio de experiências.

Segundo Yasmin, o Pasta Basta também oferece aos funcionários remunerações acima da média e um ambiente que os permite aprender coisas novas e crescer na hierarquia. “Comunicação às claras, do que cada um espera do outro, também é importante”, analisa.

Com uma unidade em Curitiba e outra em São José dos Pinhais, o Wolfs Burger trabalha para manter o quadro de colaboradores sempre completo, evitando o modelo taxa. Segundo Jonathan Laverde, sócio-proprietário, desde a pandemia, a equipe foi mantida ou cresceu.

Para fortalecer os laços com a equipe e engajá-los no trabalho, a casa oferece plano de terapia mensal, massagens e programas de entrosamento, “rolês com toda a equipe para conhecer novos lugares”, destaca. O estabelecimento, conta Jonathan, também oferece salários acima da média do setor, carga horária reduzida e quadro de colaboradores completo para não sobrecarregar funcionários.

“A Wolfs é feita de pessoas servindo pessoas”, acrescenta. “O maior movimento no setor é aos fins de semana, e que são dias que precisamos de um maior efetivo. Mesmo assim, priorizamos os contratos com segurança e mantemos nossa equipe completa todos os dias. Assim, continuamos a realizar nosso trabalho com excelência”, diz.

Remuneração inicial e rotina são obstáculos para conquistar equipes engajadas

Na avaliação de Yasmin, as longas jornadas, o trabalho exaustivo física e mentalmente e a remuneração nem sempre dentro do esperado são fatores que desanimam pessoas a se fixarem na área e dificultam a criação de equipes engajadas. Outro representante do segmento, que preferiu não se identificar, diz que há no mercado a percepção de que parte da reclamação de proprietários de restaurantes quanto à dificuldade do encontro de mão de obra esteja ligada aos baixos salários oferecidos.

A Abrasel-PR defende que a remuneração no setor é boa, mas acredita também que é preciso uma mudança de imagem. “Sempre digo que nossa embalagem precisa ser mudada, porque quem realmente trabalha sabe que o setor paga muito bem”, defende Bartolomeu. “Embora nosso piso pareça ser baixo, os bons restaurantes, os bons bares, não pagam o piso. Tem garçons que ganham de R$ 3 mil a R$ 10 mil. Pessoal trabalhando na cozinha ganhando o mesmo, conforme o tempo e especialidade”, destaca.

O piso da categoria de funcionários de gastronomia e hotelaria, estabelecido em convenção coletiva no dia 26 de maio deste ano, informa o Sindehotéis (Sindicato dos Trabalhadores no Comércio Hoteleiro, Meios de Hospedagem e Gastronomia de Curitiba e Região), é de R$ 1.680, sem discriminação de função. A Abrasel informa que trabalha para tentar ampliar esse valor, com benefícios para ambos os lados.

Fonte: Gazeta do Povo – Bom Gourmet

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